segunda-feira, 18 de julho de 2016

13. A Menina e a Concha Marinha

- Como é ter o mar dentro de você? – perguntou a Menina, encantada.
- É uma coisa que muda constantemente. – respondeu a Concha Marinha, com naturalidade. – O mar que carregamos dentro de nossas cascas varia dia a dia. Em alguns momentos é um mar calmo e sereno, um barulho constante, tranquilo. Às vezes é violento e destrutivo, de modo que se você, Menina, escutasse uma concha em um dia desses, ouviria um barulho forte e ruidoso.
- Então vocês carregam o mar para todos os lugares?
- Não, Menina. Nós, conchas marinhas, levamos apenas o seu eco, sua lembrança. Ao mar pertencemos, e quando do mar nos afastamos levamos o relato de sua imensidão.
- E por que fazem isso?
- Você já tocou em uma estrela?
- Não...
- Então pode me compreender. O mar é imenso e único, mas não é distante, como a galáxia, por exemplo. O mar é imenso, mas é um imenso possível. Por isso levamos o seu barulho: temos o dever de lembrar o mar e toda sua vastidão possível. Além disso, o som que levamos é um lamento, uma espécie de canto, de saudade. É a forma que nós, conchas marinhas, usamos para falar desse desejo de retornar ao mar, presente em todas as criaturas que já o conheceram.
- O mar é mesmo muito bonito!
- E a ele pertencemos.
- Posso ouvir um pouco?
- É claro.
A Menina então levou a Concha Marinha até o ouvido e escutou o mar, profundamente. Depois, se despediu.
Enquanto ia embora, a Menina ficou pensando. Pensava que também ela era um pouco concha, que também ela carregava dentro de si o mar, um verdadeiro oceano. E sentou na areia, com seus sentimentos de concha, enquanto a noite caía sobre a praia.
Imensamente.

[O livro ilustrado das Conversas da Menina com o Mundo, com todos os 25 contos, numa linda edição em capa dura, está a venda na Livraria Cultura, nesse link aqui ]


Nenhum comentário:

Postar um comentário