segunda-feira, 4 de julho de 2016

11. A Menina e a Aranha Tecedeira

- Como é passar o dia fazendo armadilhas? – perguntou a Menina a Aranha Tecedeira.
- Trabalhoso. Passo horas e horas ininterruptas do dia tecendo minhas teias para cobrir um tantinho assim de espaço. Para construir uma boa armadilha, Menina, é preciso muito tempo de árduo trabalho.
- As teias que você tece são bem bonitas! – disse a Menina, com sinceridade.
- Toda armadilha tem sua parcela de beleza. Em alguns momentos, depois de passar dias e dias tecendo de um galho até o outro, olho para o trabalho pronto e acho determinada teia particularmente bonita. Nesses momentos, sinto orgulho. – disse a Aranha Tecedeira, contemplativa. – Mas a beleza, definitivamente, é o que menos importa em uma armadilha, Menina.
- E qual a coisa mais importante?
- Não é óbvio? Sua funcionalidade. De nada adianta a beleza de uma teia se ela não capturar moscas para garantir o jantar. Assim são as armadilhas: devem capturar seu alvo, ou não servem para nada.
- Tecer armadilhas me parece um trabalho tão ardiloso. – disse a Menina, pesarosa.
- E é mesmo. As armadilhas são, por definição, ardilosas. São feitas de esperteza e traição. Mas isso não faz de nós criaturas traiçoeiras. Ao contrário disso. Nós, aranhas tecedeiras, somos absolutamente leais ao nosso trabalho. Fazemos nossas armadilhas todos os dias, sem descanso. Jamais traímos nosso dever de aranhas.
- Antes de eu ir embora, posso ver você tecendo um pouco?
- É claro que sim, Menina. – respondeu a Aranha Tecedeira com generosidade. E se despediu, já logo voltando para o seu trabalho de tecer teias.
A Menina sorriu, se sentou, e silenciosamente observou a aranha com seu trabalho.
E ficou ali, pensando na vida. E suas armadilhas.

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