segunda-feira, 2 de maio de 2016

2. A Menina e o Cão de Guarda da Policia

- Você nunca se cansa? – perguntou a Menina ao Cão de Guarda da Policia.
- Eu não posso me cansar. – respondeu o policial canino – É quando nos cansamos que o inimigo vem.
- E quem são os inimigos?
- Essa pergunta não faz o menor sentido, Menina. Nós, cães da policia, não somos treinados para reconhecer o inimigo.
- Então vocês são treinados para o quê?
- Para reconhecer os aliados.
- E todo o resto é inimigo?
- Todo o resto é uma ameaça. Por isso, não podemos descansar.
- Mas não é uma vida de muito ódio? – perguntou a Menina, sinceramente preocupada.
- Também nisso somos treinados. – respondeu o cão de guarda. – Você, Menina, precisa compreender o ódio de outra forma. Para nós, policiais caninos, o ódio não é um sentimento, é uma ferramenta. Sem ela, não é possível realizar nosso trabalho.
- Então porque você não rosnou para mim?
- Porque mesmo o ódio tem suas exceções.
- Compreendo... – Respondeu pensativa. – Obrigada por isso.
E se despediu do Cão de Guarda da Policia, que vigiou atentamente os passos da Menina enquanto ela ia embora.
Naquela noite, a preocupação não deixou a Menina dormir. Pensava no futuro, em um tempo em que todos os afetos tenham virado ferramentas, em que as pessoas caminharão por aí, ocas, mecanicamente apressadas com suas caixas de utensílios sentimentais.
E cantou. Cantou sua música predileta.
E encheu seu quarto de afeto.
[segundo conto da Menina republicado e repaginado, caminhando para o lançamento do livro das Conversas da Menina com o Mundo! Previsão de lançamento: segunda quinzena de maio! Tá chegando!]



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