- Mas então
vocês mandam no mundo? – perguntou a Menina, assombrada.
- Sim e não.
– respondeu a Moeda, com rigor. – Nós, moedas e notas, criaturas do dinheiro,
somos as ferramentas usadas para isso.
- Isso o
que?
- Mandar no
mundo, dominá-lo. Nos dias de hoje, mais do que nunca, é em nosso trabalho que se
apoiam os donos de tudo.
- E qual é
esse trabalho?
- Traduzir o
mundo para nossa linguagem, a linguagem do dinheiro. Esta é nossa principal
função: dizer no alfabeto dos preços e valores todas as coisas da existência. Catalogar
no dialeto do Mercado tudo quanto ainda não tenha sido catalogado. Eis nosso
trabalho: nomear todos os aspectos que fazem a vida em moedas, notas e cifras.
- Mais que
coisa engenhosa...
- Você nem
imagina, Menina. – disse a Moeda, com eficiência. – Nunca pensávamos que nosso
trabalho iria tão longe! Atualmente, coisas que algum tempo não imaginávamos
como nomear já estão aí, traduzidas para nossa linguagem de valores e lucros.
- Que tipo
de coisas?
- Toda sorte
de coisas: objetos, serviços, sonhos, afetos, desejos, modos de vida... Basicamente,
tudo. Colonizamos muitos dos aspectos da vida. Estamos a um passo de nomear
todas as coisas da existência na linguagem do dinheiro. Não temos limite para
nossa potência de catalogar tudo.
- Mas isso
não é terrível?!
- Depende do
ponto de vista. Para aqueles que possuem o controle do nosso trabalho de moedas
e notas, os engenheiros que operam e inventam a linguagem do dinheiro, para
esses as coisas vão muito bem.
A Menina permaneceu
em silêncio, perplexa. Com a Moeda na mão pensava no futuro, em um tempo em que
todas as coisas tenham sua etiqueta de preço, em que os sonhos fiquem a venda nas
prateleiras dos supermercados, em que nossos desejos mais secretos sejam
planejados pelos donos do dinheiro.
Ainda
perplexa se despediu da Moeda.
E comprou um
chocolate.
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