- Mas como é
consumir a si mesma? – perguntou a Menina, intrigada.
- É um momento
de êxtase. – respondeu a Vela, suspirante. – Quando lentamente derretemos para
fazer brilhar nossa chama é quando cumprimos com nosso propósito de velas! Nesse
momento, vivemos nossa maior alegria.
- Mas vocês
não morrem no processo?
- É
evidente. É com o custo da nossa existência que fazemos flamejar nossos pavios.
- E você não
tem medo de deixar de existir?
- Um pouco.
Mas a felicidade de brilhar, mesmo que só por um momento, compensa qualquer
receio.
- Como você
é corajosa...
- Não é uma
questão de coragem, Menina. É uma questão de propósito. Para reluzir, toda
existência morre um pouco. É preciso existir com o máximo da possibilidade para
marcar o tempo com aquilo que podemos ser. É preciso queimar a vida,
intensamente.
- Eu teria
medo de queimar até desaparecer...
- Isso
porque vocês humanos não gastam a vida em chamas, mas em anos e décadas, contados
nos calendários. O seu pavio, Menina, é o tempo. Nós, velas, somos diferentes.
Pertencemos a mesma espécie que o sol ou as estrelas: existimos para nos
consumir, e nos consumindo relampeamos instantes de claridade universo afora.
- Sua chama
é mesmo muito bonita. Como ela se mexe!
- Está
dançando. – disse a Vela, sedutora. – Para você.
A Menina
sorriu, debruçou sobre a mesa, e ficou ali, observando a Vela com seu fogo, que
dançava e dançava. Até que a Menina dormiu. Pensando nos incêndios e brilhos da
vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário