segunda-feira, 15 de junho de 2015

15. A Menina e o Caramujo de Jardim

- Mas como é carregar a casa nas costas? – perguntou a Menina, curiosa.
- Tem suas vantagens e desvantagens. – respondeu o Caramujo de Jardim. – Em suma, é um jeito de se levar a vida.
- Quais as vantagens?
- Por levar minha casa nas costas, carrego meu refúgio sempre comigo. Ao menor sinal de chuva, no caso de qualquer ameaça, qualquer surpresa, me recolho para minha residência, em qualquer lugar. Ter sempre um refúgio é um importante recurso.
- E as desvantagens?
- São inúmeras. Por carregar minha casa, não posso ter pressa. Não é possível. Tenho sempre que me arrastar lentamente por aí, como se arrastam os caramujos de jardim. Também por levar a casa nas costas nós não sabemos o que é retornar: somos sempre nômades.
- Como assim?
- Você, Menina, é livre para se aventurar pelo mundo, mas nunca esquece o caminho para sua casa. Mais do que isso: a você é possível retornar. Nós, caramujos de jardim, carregamos o fardo que carregam todas as criaturas nômades: levamos em nossas costas o peso de não ter nunca para onde voltar. Não temos raízes. Pertencemos a todos os lugares, ao mesmo tempo que não pertencemos a lugar nenhum.
- Isso não é muito triste?
- Às vezes. Mas também é bastante libertador. É como eu disse, temos nosso jeito de viver, com suas vantagens e desvantagens. Como você, Menina.
- Compreendo... – disse a Menina. – Preciso ir. Tenha um bom dia.
- Boa volta até sua casa. – finalizou o Caramujo de Jardim, e logo se pôs a rastejar, com sua casa nas costas, em sua caminhada de criatura nômade, sem ponto de chegada. Já a Menina retornou. Como retornam as criaturas que criam raízes em suas casas.


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