- Mas como é
carregar a casa nas costas? – perguntou a Menina, curiosa.
- Tem suas
vantagens e desvantagens. – respondeu o Caramujo de Jardim. – Em suma, é um
jeito de se levar a vida.
- Quais as
vantagens?
- Por levar
minha casa nas costas, carrego meu refúgio sempre comigo. Ao menor sinal de
chuva, no caso de qualquer ameaça, qualquer surpresa, me recolho para minha
residência, em qualquer lugar. Ter sempre um refúgio é um importante recurso.
- E as
desvantagens?
- São
inúmeras. Por carregar minha casa, não posso ter pressa. Não é possível. Tenho
sempre que me arrastar lentamente por aí, como se arrastam os caramujos de
jardim. Também por levar a casa nas costas nós não sabemos o que é retornar:
somos sempre nômades.
- Como
assim?
- Você,
Menina, é livre para se aventurar pelo mundo, mas nunca esquece o caminho para
sua casa. Mais do que isso: a você é possível retornar. Nós, caramujos de
jardim, carregamos o fardo que carregam todas as criaturas nômades: levamos em
nossas costas o peso de não ter nunca para onde voltar. Não temos raízes.
Pertencemos a todos os lugares, ao mesmo tempo que não pertencemos a lugar
nenhum.
- Isso não é
muito triste?
- Às vezes.
Mas também é bastante libertador. É como eu disse, temos nosso jeito de viver,
com suas vantagens e desvantagens. Como você, Menina.
-
Compreendo... – disse a Menina. – Preciso ir. Tenha um bom dia.
- Boa volta até
sua casa. – finalizou o Caramujo de Jardim, e logo se pôs a rastejar, com sua
casa nas costas, em sua caminhada de criatura nômade, sem ponto de chegada. Já
a Menina retornou. Como retornam as criaturas que criam raízes em suas casas.
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