- Mas como é
viver fazendo música? – perguntou a Menina ao Piano.
- É uma coisa bastante cansativa. É com o desgaste das nossas teclas, com as
batidas das nossas engrenagens, que a música pode ser fabricada. É um trabalho
árduo, mas fazemos sem reclamar ou desafinar.
- Eu pensava
que era uma coisa maravilhosa viver fazendo música... – disse sinceramente a
Menina.
- Tem seus
momentos. – respondeu o Piano, acolhedor. – Mas lembre sempre, Menina: nem só
de sons memoráveis vive um piano. É exatamente o contrário disso. Os instantes
de brilho, aqueles em que a música ressoa na sua forma mais potente, são
exatamente isso, instantes.
- E o resto
do tempo?
- O resto do
tempo vivemos imersos no cotidiano exigente e cansativo como o de qualquer
trabalho. Na maior parte do tempo, somos preenchidos por rotinas de estudos de
escalas, músicas repetidas até o limite, criações truncadas, um dia-a-dia ocupado
e repetitivo como qualquer outro. O que é óbvio. É da rotina trabalhosa que
pode emergir os instantes de brilho.
- Mas a
música é uma coisa única! – respondeu a Menina, com admiração.
- Única como
são únicas todas as coisas que fazem a vida. A música, Menina, é só mais um dos
elementos que fazem a existência. Nem mais, nem menos.
- Eu gosto
muito de música.
- Gratidão
por isso. É por conta de pessoas como você que os pianos seguem existindo.
A Menina sorriu.
Depois, pediu licença e tocou o Piano. Bateu cada tecla, uma a uma, como se
saboreasse um doce. E se despediu, feliz pelo encontro.
Na volta
para sua casa, a Menina só conseguia agradecer. Agradecer por todas as
criaturas que, apesar de todas as dificuldades, fabricam a música. E cantou.
Uma velha
cantiga que aprenderá com sua avó.
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