segunda-feira, 4 de maio de 2015

8. A Menina e a Rosa Vermelha

- Mas você não se cansa de parecer tão frágil? – perguntou a Menina, delicadamente.
- E isso é um problema? – retrucou a Rosa Vermelha, gentilmente.
- Não sei dizer ao certo... Mas me parece perigoso ser tão frágil.
- Isso porque vivemos em um tempo de brutalidades, Menina. Por isso a delicadeza parece um defeito. Mas é justamente o contrário: a fragilidade é fruto de muito trabalho.
- Mas qualquer pessoa pode desmanchar suas pétalas com o menor descuido...
- É verdade. Contra violência não a diálogo possível, senão a violência. Por isso nós, rosas vermelhas, temos nossos espinhos.
- Para furar dedos violentos?
- Para nos proteger, e garantir o espaço que precisamos para desenvolver nossa fragilidade. É com ela nós, rosas vermelhas, acolhemos as pequenas coisas do mundo, suspiros, olhares, intenções, e por isso podemos ser um símbolo-gesto do amor. É nossa fragilidade que nos permite perceber os outros seres delicados, as outras existências frágeis que fazem a vida, e por isso podemos ser um símbolo-gesto de uma revolução.
- Tudo a partir da fragilidade?
- Tudo a partir da fragilidade. Quando alcançamos o máximo da nossa delicadeza é quando realizamos o máximo da nossa potência! Esse é o momento em que nós, rosas vermelhas, exalamos o máximo do nosso perfume.
- Você é mesmo muito linda... – respondeu a Menina, com admiração. – E infinitamente forte na sua fragilidade. Gratidão por isso.
E se despediram, a Menina e a Rosa Vermelha.

Naquela noite, a Menina fez uma lista no seu caderno, com todas as suas fragilidades. Era uma lista grande. Depois, foi dormir. Morrendo de orgulho de si mesma e de todas as suas delicadezas.


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