- Mas como é
passar o dia fazendo armadilhas? – perguntou a Menina a Aranha Tecedeira.
-
Trabalhoso. Passo horas e horas ininterruptas do dia tecendo minhas teias para
cobrir um tantinho assim de espaço. Para construir uma boa armadilha, Menina, é
preciso muito tempo de árduo trabalho
- As teias
que você tece são bem bonitas... – disse a Menina, com sinceridade.
- Toda
armadilha tem sua parcela de beleza. Em alguns momentos, depois de passar dias
e dias tecendo de um galho até o outro, olho para o trabalho pronto e acho
determinada teia particularmente bonita. Nesses momentos, sinto orgulho. –
disse a Aranha Tecedeira, contemplativa. – Mas a beleza, definitivamente, é o
que menos importa em uma armadilha, Menina.
- E qual a
coisa mais importante?
- Não é
óbvio? Sua funcionalidade. De nada adianta a beleza de uma teia se ela não
capturar moscas para garantir o jantar. Assim são as armadilhas: devem capturar
seu alvo, ou não servem para nada.
- Tecer
armadilhas me parece um trabalho tão ardiloso... – disse a Menina, pesarosa.
- E é mesmo.
As armadilhas são, por definição, ardilosas. São feitas de esperteza e traição.
Mas isso não faz de nós criaturas traiçoeiras. Ao contrário disso. Nós, aranhas
tecedeiras, somos absolutamente leais ao nosso trabalho. Fazemos nossas
armadilhas todos os dias, sem descanso. Jamais traímos nosso dever de aranhas.
- Antes de
eu ir embora, posso ver você tecendo um pouco?
- É claro
que sim, Menina. – respondeu a Aranha Tecedeira com generosidade. E se
despediu, já logo voltando para o seu trabalho de tecer teias.
A Menina
sorriu, se sentou, e silenciosamente observou a aranha com seu trabalho.
E ficou ali,
pensando na vida. E suas armadilhas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário