- Mas você
nunca se cansa? – perguntou a Menina ao Cão de Guarda da Policia.
- Eu não
posso me cansar. – respondeu o policial canino – É quando nos cansamos que o
inimigo vem.
- E quem são
os inimigos?
- Essa pergunta
não faz o menor sentido, Menina. Nós, cães da policia, não somos treinados para
reconhecer o inimigo.
- Então
vocês são treinados para o que?
- Para
reconhecer os aliados.
- E todo o
resto é inimigo?
- Todo o
resto é uma ameaça. Por isso não podemos descansar.
- Mas não é
uma vida de muito ódio? – perguntou a Menina, sinceramente preocupada.
- Também
nisso somos treinados. – respondeu o cão de guarda. – Você, Menina, precisa
compreender o ódio de outra forma. Para nós, policiais caninos, o ódio não é um
sentimento. É uma ferramenta. Sem ela, não é possível realizar nosso trabalho.
- Então
porque você não rosnou para mim?
- Porque
mesmo o ódio tem suas exceções.
-
Compreendo... – Respondeu pensativa. – Obrigada por isso.
E se
despediu do Cão de Guarda da Policia, que vigiou atentamente os passos da
Menina enquanto ela ia embora.
Naquela
noite, a preocupação não deixou a Menina dormir. Pensava no futuro, em um tempo
em que todos os afetos tenham virado ferramentas, em que as pessoas caminharão
por aí, ocas, mecanicamente apressadas com suas caixas de utensílios
sentimentais.
E cantou.
Cantou sua música predileta.
E encheu seu
quarto de afeto.
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